“Esperei confiantemente no SENHOR; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro.” Salmos 40:1.
A esperança é o aguardar confiante na bênção de Deus e em sua visão protetora, mas também é temor em ofendê-Lo, magoá-Lo. Toda a Escritura Sagrada emana esperança, desde Israel à Canaã Celestial. A Esperança verdadeira não decepciona.
Porém, temos também alguns pecados que vão contra a virtude da esperança, e que atingem não só os fiéis, mas o homem na sua essência, afastando a vida e a liberdade: desespero e presunção. Na verdade, trata-se de dois extremos. Quando o homem fica em desespero, ele deixa de esperar de Deus sua salvação pessoal, bem como os auxílios e tudo mais. O desespero coloca contra a bondade de Deus e à sua justiça, pois Deus é sempre fiel às suas promessas e à sua eterna misericórdia. Já a presunção é o outro extremo, pois o homem presume de suas capacidades, sem auxílio nenhum de Deus, ou presume da onipotência ou da misericórdia de Deus; espera perdão, mas sem conversão, e glória sem nenhum mérito.
Talvez se possa compreender, se refletirmos um pouco mais exatamente sobre a angústia! Há aí, em primeiro lugar, as mil espécies de angústias que nos afligem no dia-a-dia, desde o medo da mordida de um cão até o receio do aborrecimento diário com os outros, no local de trabalho ou em casa. Mesmo aqui, não são as “angustiazinhas” isoladas que mortificam e levam os homens ao desespero. Por trás delas está a Angústia propriamente dita, a de que a vida como tal falhe, se torne tão triste e pesada que não possa mais ser vivida. O existir deixa de ser bom, se nunca se teve uma experiência positiva, se alguém nunca se sentiu amado. Em outras palavras, a Angústia que está atrás das angústias é a da ausência total de amor, o medo de uma existência em que os aborrecimentos de cada dia se tornam tudo, em que nada mais se oferece de grande, de acolhedor. Nesse sentido, as pequenas angústias se tornam a única coisa que se espera do futuro, transformam-se na grande Angústia, a de uma vida que, por não oferecer nenhuma esperança, é insuportável.
A esperança cristã, embora vise aos bens definitivos e transcendentais, não ignora os valores temporais, aos quais ela tende na medida em que possam ser a antecipação dos bens eternos. Afinal o Reino já se faz presente no “já” e no “ainda não”. Todavia, o cristão acautela diante de dois extremos: o pessimismo radical — “todos os esforços em prol da cidade terrestre são inúteis” — e o otimismo utópico — “a cidade terrestre, devidamente construída, será a cidade mesma de Deus”. O cristão, pelo fato mesmo de ser cristão, entrega-se, com empenho especial, às suas tarefas temporais, mas não se engana a respeito dos resultados que possa esperar. A cruz não o decepciona. Por isto, a Sagrada Escritura associa frequentemente entre si a esperança e a paciência, ou a constância tenaz; assim, por exemplo, os que tendo recebido a semente da palavra de Deus dão fruto múltiplo, dão-no em clima de paciência (Cf. Lucas 8:15).